domingo

Estrada

Fizémo-nos à estrada, como sempre, atrasados. Bastante atrasados. É todas as vezes a mesma coisa, por mais cedo que a mãe nos acorde, por mais rápido que se arrumem as malas no carro. Não consigo perceber onde raio enfiamos nós o tempo! É assim, quando viajamos. Que correria...
Adoro a viagem. Gosto mesmo. Há sempre tempo para tudo, especialmente se não for eu a conduzir. Dormitar um bocadinho, em jeito de pedido de desculpas a um corpo cansado que nesse dia tem autorização para dormir bem menos que o costume. Estender a vista por montes, vales e planícies. Cumprimentar pessoas que passam na rua, e animais que vagueiam pelas pastagens. Cantarolar músicas que passam na rádio, cujas letras é incrível nunca sabermos por completo, de tão ouvidas que estão. Tentar sem sucesso fotografar o que passa ao nosso lado a alguma velocidade, a suficiente para nos fugir à lente.
Chegamos e é mágico, reencontrar quem está longe a maior parte do tempo. E questionamo-nos "por que é que não telefono mais vezes?!"
Antes de encontrar uma resposta entre mil pensamentos, ocupações e preocupações que povoam a minha mente, o tempo já passou o suficiente para estarmos de partida. "Devíamos ter tirado mais fotografias todos juntos." Mais do que em qualquer momento que possa assaltar o nosso dia-a-dia, é aí que nos apercebemos de toda a fragilidade da distância. Voltamo-nos para trás no banco e acenamos um adeus até o carro ter contornado a esquina da rua. Um adeus que é eterno, até ao nosso regresso. Um sorriso que tem cheirinho a lágrimas, do momento emocionado com a grandeza dos laços. Ainda bem que a estrada faz parte da vida. Ainda bem que o destino também.

1 comentário:

Maria Ana disse...

Podia jurar que já tinha comentado este texto! É tão bonito.

E adorava que se fizessem À estrada mais vezes =)