domingo

Mudança de energia


A noite passada o vento acordou-me. A mim e às copas das árvores no jardim lá fora. Abri a janela para confirmar a ventania e encontrei ramos e folhas em remoinhos presos ao chão, dançavam sincronizados a partir dos seus troncos, desenhavam círculos no espaço da sua existência. Pareciam revoltados. Numa dança tão violenta e sonora, só não conseguia perceber o que diziam. Fiquei alguns minutos em esforço, mas nada. A mensagem ficou perdida no ar.
Pensei em cabelos fora dos penteados, vestidos esvoaçantes, velhos a segurar as boinas para que não fujam, castanhas folhas a fugir de montes ao longo do passeio. Panos a saltar das molas nos estendais, sacos de plásticos a elevar-se no ar. Pensei que todos me lembravam esforço. O esforço de contenção, contrariado pela força do ar que corre no vento. Ninguém se quer perder no meio da tempestade. Ninguém se quer ver desaparecer. Toda a gente se segura em si, com determinação. Conscientes do seu objectivo.
Lavei a cara com a frescura que anuncia o fim do tempo quente. Fechei a janela para que o conforto do quarto me voltasse a abraçar. Voltei a deitar-me e desta vez puxei para mim o edredão entretanto abandonado aos pés da cama. Dormi. É vento lá fora. E chuva e frio e corpos rijos com medo de perder a energia. É tempo de ir buscar energia a outro lado.

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