segunda-feira

Estranhas cigarras



Estranhas cigarras que me enchem os ouvidos, debruçada no parapeito da janela do terceiro andar, virada para o poente, entre a luz do pôr do sol e do sol posto. Cantem, cantem, anoitecer fora, enquanto fecho os olhos e estico o pescoço para provar a brisa fresca mas ainda afável, depois do abafar de um dia de 40º. Não parem, estranhas cigarras, que o vosso canto me traz no ar o sol escaldante na Arrábida, e a sombra amiga das barraquinhas de tecido às riscas brancas e azuis, brancas e vermelhas, brancas e amarelas, alinhadas no areal. Onde nos refugiávamos a comer cornettos de morango, a lambusar as bochechas, a rir às gargalhadas. Continuem, estranhas cigarras. Porque me sabem a Verão.