segunda-feira

Sopa de nabiças


Escolho as folhas verdes de nabiça para lavar e fazer sopa. E cheira-me a infância, a mãe, a avó, a quintal. À horta, ao som das muletas do meu avô a baterem no chão num lento compasso regrado, o seu assobiar. Ao meu pai a regar. Ao Verão quente e sol que só se põe tarde. Às minhas tropelias e corridas e fugidas com irmãos, primos, qualquer um que aparecesse. Aos joelhos esfolados e à roupa cheia de terra e lama. Aos ralhetes entre risadas dissimuladas. Aos meus tios. Aos pés descalços e calças arregaçadas. Saltos e voos e piruetas sem fim. Portas abertas. Limites desfocados, de tão longínquos. Leveza de ser, apenas um dia de cada vez. Verdadeiramente, um dia de cada vez.